A CPT Campina Grande participou do Encontro Estadual de Agricultores e Agricultoras Experimentadores promovido pela ASA Paraíba, realizado nos dias 16 e 17 de setembro no Day Camp, em Campina Grande. O encontro teve como objetivo a partilha de experiências e inovações trazidas por camponesas e camponeses que fazem agroecologia convivendo com o Semiárido, além de preparar os participantes para o Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA 2025)
, que acontecerá em outubro, em Juazeiro (BA), na Univasf, às margens do Rio São Francisco (Opará).
Durante a programação, agricultoras, agricultores, organizações e movimentos sociais apresentaram o cenário dos territórios, destacando os principais desafios que têm afetado a vida no campo. Foram ressaltados o desequilíbrio ambiental que adoece plantas, animais e pessoas, reduzindo a produção de algumas culturas no estado; a pressão do capital sobre os territórios a partir do modelo concentrado de produção de energias renováveis e suas linhas de transmissão; o avanço da agricultura sintética; a disseminação das sementes transgênicas, que provocam a erosão das “Sementes da Paixão”; o uso crescente de agrotóxicos; e o avanço da especulação imobiliária e da mineração.
O encontro também refletiu sobre o atual contexto político, marcado pelo avanço da extrema direita e de grupos neofascistas na América Latina. Essa conjuntura foi analisada à luz da luta em defesa da democracia e da necessidade de políticas públicas compatíveis com o bioma do Semiárido, que incluam as demandas dos jovens e das mulheres, reduzindo injustiças e enfrentando o patriarcado.
A reflexão foi aprofundada por Michela Calaça, feminista, pesquisadora da luta das mulheres e do Semiárido e atual secretária-geral da Presidência da República, que destacou os desafios para o fortalecimento das práticas de convivência com o Semiárido.
A plenária reafirmou o compromisso com a mobilização e a luta pela retomada das políticas públicas de acesso à água e à produção de alimentos saudáveis. Com a volta do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), mais de 100 mil famílias do Semiárido tiveram acesso, nos últimos três anos, a tecnologias sociais para beber e produzir água. Também foi enfatizada a importância da proteção e estocagem das sementes nos Bancos de Sementes Comunitários (BSC) e nos bancos familiares, além da expansão dos Fundos Rotativos Solidários (FRS), que fortalecem a autonomia financeira das comunidades camponesas.
O segundo dia do encontro foi marcado pelo “Terreiro de Inovações”, espaço dedicado à valorização do conhecimento camponês. Nesse momento, o jovem assentado Lucas Silva, integrante da equipe da CPT Campina Grande, apresentou um “filtro para biodigestor”, solução prática e de baixo custo que foi multiplicada em nove biodigestores construídos nos assentamentos Campos Novos, onde reside, e São Luiz, ambos no município de Sossego.
Ainda no segundo dia, os participantes puderam ouvir o testemunho de Maria Paulo, de 88 anos, referência na luta pela reforma agrária e na formação militante na diocese. Em suas palavras, ela afirmou: “Não fiz por mim, mas porque Deus pede, não para me exibir, mas por justiça. Sem Reforma Agrária não tem agroecologia.”
O encontro foi concluído com encaminhamentos e a reafirmação da importância da agroecologia como prática de resistência e esperança para manter vivo o Semiárido.
Fotos: Equipe CPT Campina Grande (PB)